Em quinze anos, acidentes de trânsito ficaram 50% mais letais, diz especialista

Em 15 anos, os acidentes de trânsito nas rodovias federais brasileiras ficaram 50% mais letais. A análise da série histórica de dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) a partir de 2007 revela que a redução no número de sinistros não resultou em uma queda proporcional no número de mortes. Em 2007 foram registrados 127.671 sinistros e 6.742 mortes, uma proporção de uma morte a cada 19 sinistros. Em 2022, foram 64.547 sinistros e 5.439 mortes, uma morte a cada 12 acidentes.

“Nesse lapso de tempo o número de sinistros cai praticamente pela metade (49,44%), mas a queda no número de vítimas fatais foi de apenas 19,33%. Isso reflete a maior gravidade desses eventos evitáveis, retrato do aumento da imprudência, da intolerância e da violência no trânsito”, comenta o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra.

Dados preliminares divulgados pela PRF mostram que, no ano passado, a proporção de mortes se manteve em relação a 2022. Em 2023 foram registrados 67.626 sinistros e 5.621 óbitos, ou seja, uma morte a cada 12 acidentes. “O excesso de velocidade, um dos sintomas do aumento da violência viária e da imprudência, está diretamente relacionado à letalidade dos sinistros de trânsito”, afirma o especialista.

Tendência de alta – A análise mais cuidadosa da série revela que, a partir de 2019, o Brasil interrompeu uma sequência de quedas nos índices de sinistros e mortes e passou a registrar aumentos anuais na violência viária.

O diretor científico da Ammetra, Alysson Coimbra

“A partir de 2018 assistimos a uma tentativa de desmonte das políticas públicas de segurança viária, com a redução das fiscalizações presenciais e de controle de velocidade nas rodovias e o flexibilização das leis de trânsito em 2020. Esse atual cenário é a junção do populismo no trânsito e da falta de intervenção séria em nossas rodovias, e o números de vidas perdidas revelam o resultado dessa desacreditação coletiva do Sistema Nacional de Trânsito. Esse quadro só mudará com a revogação dos inúmeros retrocessos cometidos e o resgate da valorização da posse da carteira nacional de habilitação (CNH)”, comenta Coimbra.

Rodovias que perdoam – Na avaliação do diretor da Ammetra, reverter essa tendência passa pelo reforço da fiscalização, das ações de educação no trânsito e investimento na infraestrutura viária. “O fator humano é responsável por 90% dos sinistros. Uma política pública que pretende salvar vi

das deve fazer intervenções nas vias que reduzam ou minimizem os riscos de acidentes, o que chamamos de rodovias que perdoam. Essa expressão é usada para se referir a rodovias projetadas para reduzir os danos provocados por eventuais falhas humanas. É preciso atuar em diversas frentes para obtermos um resultado consistente na diminuição dessas mortes evitáveis”, completa o especialista.

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